domingo, 27 de fevereiro de 2011

Navegar

Umedecido, alagado. Meu corpo já deixa transbordar resquícios d’água. Uma água meio doce, meio salgada, que começa a romper os muros dessa represa-corpo e pressiona, com força, as pequenas frestas dos olhos. Mas resiste o corpo. E sempre que com mais força essa água corpórea insiste em lançar-se para fora, é contida. Num dilema entre forças que buscam libertar-se e aprisionar-se, devaneiam pensamentos, como que em busca de Oasis perdidos na sequidão de solo de águas represadas. Navego na sequidão de meu nada e encontro, encalhado, um navio perdido. Tesouros me esperam. Não são pedras nem líquido preto. Não se trata de terra... mas sei que algo está a minha espera. E se enchem de força meus braços. Levantem-se as velas! Guia-me a bússola de um céu estrelado e a precisão de um desejo ainda esfumaçado.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Borboleta

Vale o tempo em que, rastejando, se locomovia,
Vele o tempo em que se enclausurou,
Vale a escuridão do casulo,
Vale o renascer com asas e cor.
E ainda que seja pouco o tempo vivido,
Vale acima de tudo, o tempo em que, com asas, voou.

Dalva de Castro

Retorno

Não consigo conter o que há em mim. Uma explosão interna, um desejo.

Retorno a mim, ao que sou, a vida.
E é tão intenso o que sinto, que o ar se faz muito no peito, se expande até quase sufocar e sair.
Vontade de rir e chorar.
Um descompasso com o mundo lá fora.
Olho para mim pelo que vejo fora. Olho para fora, para o outro e me vejo: Viva, plena de mim!
Um aperto no peito, um vazameto no canto do olho, difícil de conter.
Aprendi com a vida, em cada porto, que o sentir é o vento que me move, que não posso aprisionar o desejo de ser livre, que o medo deve ser alerta aos perigos, mas não impedimento à vida.
É preciso viajar, navegar, conhecer...
É preciso viver!

Dalva de Castro