terça-feira, 15 de março de 2011

SUOR

O suor corre em meu corpo, como energia precisando sair, ganhar vida própria, interagir com o mundo, fluir.
O suor molha meu corpo de uma água especialmente minha, mas que só existe como partes de outros; como as idéias, que se fazem nascer de muitos, em tempos e lugares diversos, mas se encontram num tempo e espaço cósmico: as mentes que se permitem ousar.
Suor do trabalho. Suor do desgaste que pode gerar prazer! Suor que sua a pele, como o som ao soar no ar. Cada um de sua forma, com sua maneira de se fazer existir, de se tornar ser, de se propagar. Cada um sendo o que é e se transformando no que será.
Como a energia que se faz eterna ao se transformar, brota de meu corpo o suor, se faz gotículas ao percorrer o relevo da pele que também é minha e sonha com a liberdade de evaporar. Permanecerá em mim apenas pelo tempo necessário de nova metamorfose, de um novo ser, ser. É vida, ainda que não se faça perceber.
E a insistência performática do correr desse líquido por meu corpo, me faz lembrar a vida que existe em mim, que se pretende eternamente fluida e mutável, para que seja eterna como a energia.

Dalva de Castro – 15/03/2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

FOTO GRAFIA


Ainda me surpreendo com as formas e as cores captadas pelo instante da fotografia.
A beleza do momento fixada para além da ocasião vivida.
Falta o perfume, o calor, mas fica a forma, a cor, a magia que o olho capta; e de alguma forma, a magia do instante se recria, a cada ponto, a cada marca de luz que de deixa aprisionar e se transforma em forma, fazendo o tempo parecer parar.
Memória viva numa superfície plana, como maneira de deixar o instante retornar pelo olhar. A cada nova imagem lida, magia, poesia entre formas e cores que se perpetuam no tempo.
E o instante fugidio se reconstrói, retorna do tempo, se faz presente, eternamente infinito, onipresente e eterno.
Lendo imagens, firmo o tempo, re-lembro, revivo o vivido, me surpreendo.

Dalva de Castro, em 10/03/2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

TEMPO

Há tempo em que não se tem tempo
Há tempo em que se tem tempo demais
Há tempo em que se quer que o tempo pare
Há tempo em que se quer vê-lo passar

Há tempo em que se deve ter coragem
Há tempo em que se deve estar distante
Pra que o tempo apague as mágoas
E um novo tempo se faça recomeçar

Dalva de Castro

quinta-feira, 3 de março de 2011

ENVELHECER

Envelhecer é
guardar memórias,
lembranças,
sabores e saberes do que se viveu.

Viver é envelhecer!
E é preciso saber envelhecer:
Cultivar sementes que possam germinar flores,
Podar espinhos que penetrem e machuquem o corpo que se fará cansado um dia.

Quero viver!
Quero envelhecer!
E bem velhinha,
Quero lembrar o que vivi e sentir paz pelo que fiz,
Quero sorrir e experimentar alegrias pelo que produzir,
Quero sentir com prazer as marcas que deixei em meu corpo cansado,
Quero visualizar marcas de alegria e paz deixadas por mim, nos corpos com quem cruzei.

E ao corpo invólucro que a minha alma guarda,
Quero a alegria de olhar com prazer para cada uma das marcas deixadas,
Quero a certeza de que as escolhas que fiz foram corretas,
Quero orgulho das decisões tomadas,
Quero respirar profundamente satisfeita pelas escolhas acertadas.

(Dalva de Castro)
Sou herdeira de mim, dos atos que cometi. (Dalva de Castro)

terça-feira, 1 de março de 2011

NINHO VAZIO

Vai indo

Meu menino bonito

Deixando alegria e saudade num rastro

De beijos, abraços, conversas, tristeza e amor



Vai indo

E suspiro fundo

Pra aquecer o abandono que fica no peito

Como ninho vazio do passarinho que voou



Vai indo

Seguindo um caminho só seu

Vai deixando memórias de tempos vividos

E levado em cada passo, um pouco do que outrora foi meu



Vai indo

Que a vida segue seu caminho

Vai crescendo a cada despedida

E enraizando amor em cada retorno e acolhida



Vai indo

Regando a semente crescida

Que já se faz árvore e sombreia a vida

Que acolhe mesmo os espinhos de sua despedida

Dalva de Castro, em 18/01/11.

Pincel de Luz

É madrugada


O sol desponta mansinho, mansinho

Vai colorindo as flores,

Pitando o branco que ficou da noite

Com o colorido de sua luz multicor.



Vai acordando a flor que dorme

Encolhida com o frio lunar

E se abre para ver o dia

Com esplendor e alegria.



Como é mágico o pincel de luz que o sol carrega!

Ele chega bem depressa de maneira tão sutil,

Passa mesmo, despercebido, para que olha e não vê,

Para quem é desatento,

Para quem já não tem tempo de acordar com o amanhecer.



Piaçabuçu, 26/01/11