sexta-feira, 28 de setembro de 2012

CALE-SE!



 
É o barulho interno que grita mais alto que a batucada.
A batucada é convite à vida que parece morrer.
Uma morte silente de olhos que olham para dentro e vê o invisível aos olhos, mas não sabe o que fazer.
Tentei acalmar a mente, calar o grito que mandava calar-me ou entender o que aquele “calar” queria dizer.
Nada se aquietou...
Apenas um turbilhão crescente de interrogações povoava a mente, lágrimas teimavam em escorrer pelos cantos dos olhos e o silêncio agarrava como garras, arranhando com força a garganta para fazê-la incapaz de falar.
Tentei libertar as amarras, aceitar o convite da festa, deixar o canto sair e o corpo dançar, mas o grito dizendo “cale-se!” virou ordem, emudeceu-me.
A garganta, de tão irritada calou-se por dias.
E enquanto silenciava, ouvia do mais fundo do fundo do poço, de onde vinha todo aquele barulho interno, um som em sussurros mínimos, dizendo para seguir.


Dalva de Castro, Piaçabuçu/AL.

SOU DO MATO



Sou do mato, do chão de terra, do cheiro de capim, do toque da umidade sobre a pele.
Sou da noite, do céu de estrelas, da luz da cadeira que ilumina o terraço.
Sou de canções e histórias ao redor da fogueira.
Sou do carinho que se faz a cada acordar.
Sou da mesa barulhenta de tanta gente a falar.
Sou da casa grande, de meninos correndo, brincando de esconde-esconde.
Sou do dedo que lambe a panela de bolo, da mão que enrola o biscoito.
Sou dá lágrima envergonhada que ainda assim se faz ver.
Sou do mundo, do universo, sou do ir e do voltar.
Sou do canto que se chama casa, onde a família se deixa encontrar.
             Dalva de Castro, Piaçabuçu/AL.

DANÇA DA VIDA



Em busca. De mim. Do movimento...
Em busca de quebrar as amarras que aprisionam o corpo em movimento.
Em busca de encontrar, no outro, um pouco do eu meu.
Querendo cuidar do que fui e ficou.

Do que sou e ficará,
do que serei a partir do que fui e sou.
Querendo descobrir-me e libertar-me.
Querendo paz, prazer,
Querendo o que nem sei ainda ser...
Senti medo e raiva do medo.

Medo de errar, como se houvessem erros.
Medo de gozar, como se fosse pecado.
Medo de entregar-me, como se fosse proibido.
Medo de ousar, como se fosse temeroso descobrir o novo.

Tive vontade de me jogar no chão e não o fiz.
Tive vontade de voar e não consegui.
Tive receio de machucar os outros e limitei meus movimentos.
Tive vontade de manter sempre os olhos fechados, mas os abri.

Senti tanto e tão pouco,
fiz apenas o que deu pra fazer.
Mas criei a certeza de que esse pouco
se ampliará no movimento da dança, reverberará nas ondas sonoras,
criará uma nova forma e plasticidade de um ser que,
em sendo uma intensão de ser, está sendo, constantemente.

Dalva de Castro, Piaçabuçu/AL.