terça-feira, 17 de maio de 2011

VOAR

(Dalva de Castro – 12/04/2011; inspirado em Linete Matias).

Deixa ir quem tem sede de alturas
É preciso ir para saber se há querer de voltar
Conhecer o mundo para escolher o lugar onde se quer ficar
É preciso alçar vôo, subir alto, olhar de cima
Para visualizar o melhor lugar onde se deseja pousar

Deixa ir quem quer voar
Tem melhor vista os que estão no ar
Quanto mais alto se chega
Mais campos em flores se vêem,
Mais cheiros diferentes se sentem,
Mais cores se descobrem,
Mais sons se percebem,
Mais o mundo se conhece.

Quanto mais se vê o mundo
Melhor a escolha do pouso, do canto pro ninho.
A liberdade é a melhor maneira de saber onde se quer estar.

Dá saudade a distância,
Mas só a ausência mostra,
Do outro, a importância

Cuidar das asas mesmo no regresso para outros vôos alçar.
E quando não mais houver forças e desejos de voar
Quando as penas já de fruta-cor se fizerem pintar
Ter na memória da vida, muitas histórias a compartilhar.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

MINHAS ORIGENS

(Dalva de Castro em 09/05/2011)


Trago dentro mim um pouco de muitos outros
Meus pais, avós, bisavós, trisavós, tataravós...
Origens que vêm de longe e vivem no que eu sou

Sou um que nasceu de dois
E cada dois que me fez nascer
Também veio de mais dois.

Não sou só, tenho irmãos
Então dos dois que me fizeram
Outros uns também nasceram

Uns que carregam dois,
Sendo, portanto três
E muito mais do que isso
Já que cada um dos dois
Carrega outros dois,
Que carrega outros dois,
Que carrega outros dois,
(...)
Ufa! Cansei.

Se carrego em mim tantos outros
Que sou de verdade?
De onde venho,
Quem foram meus outros eus?

Que bagunça na cabeça
Quanta coisa a descobrir
Quanta história pra contar
Deve haver dentro de mim

É como um fio de infinito
De gente que gera gente
E nesse nascer constante
Segue a vida eternamente.

terça-feira, 15 de março de 2011

SUOR

O suor corre em meu corpo, como energia precisando sair, ganhar vida própria, interagir com o mundo, fluir.
O suor molha meu corpo de uma água especialmente minha, mas que só existe como partes de outros; como as idéias, que se fazem nascer de muitos, em tempos e lugares diversos, mas se encontram num tempo e espaço cósmico: as mentes que se permitem ousar.
Suor do trabalho. Suor do desgaste que pode gerar prazer! Suor que sua a pele, como o som ao soar no ar. Cada um de sua forma, com sua maneira de se fazer existir, de se tornar ser, de se propagar. Cada um sendo o que é e se transformando no que será.
Como a energia que se faz eterna ao se transformar, brota de meu corpo o suor, se faz gotículas ao percorrer o relevo da pele que também é minha e sonha com a liberdade de evaporar. Permanecerá em mim apenas pelo tempo necessário de nova metamorfose, de um novo ser, ser. É vida, ainda que não se faça perceber.
E a insistência performática do correr desse líquido por meu corpo, me faz lembrar a vida que existe em mim, que se pretende eternamente fluida e mutável, para que seja eterna como a energia.

Dalva de Castro – 15/03/2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

FOTO GRAFIA


Ainda me surpreendo com as formas e as cores captadas pelo instante da fotografia.
A beleza do momento fixada para além da ocasião vivida.
Falta o perfume, o calor, mas fica a forma, a cor, a magia que o olho capta; e de alguma forma, a magia do instante se recria, a cada ponto, a cada marca de luz que de deixa aprisionar e se transforma em forma, fazendo o tempo parecer parar.
Memória viva numa superfície plana, como maneira de deixar o instante retornar pelo olhar. A cada nova imagem lida, magia, poesia entre formas e cores que se perpetuam no tempo.
E o instante fugidio se reconstrói, retorna do tempo, se faz presente, eternamente infinito, onipresente e eterno.
Lendo imagens, firmo o tempo, re-lembro, revivo o vivido, me surpreendo.

Dalva de Castro, em 10/03/2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

TEMPO

Há tempo em que não se tem tempo
Há tempo em que se tem tempo demais
Há tempo em que se quer que o tempo pare
Há tempo em que se quer vê-lo passar

Há tempo em que se deve ter coragem
Há tempo em que se deve estar distante
Pra que o tempo apague as mágoas
E um novo tempo se faça recomeçar

Dalva de Castro

quinta-feira, 3 de março de 2011

ENVELHECER

Envelhecer é
guardar memórias,
lembranças,
sabores e saberes do que se viveu.

Viver é envelhecer!
E é preciso saber envelhecer:
Cultivar sementes que possam germinar flores,
Podar espinhos que penetrem e machuquem o corpo que se fará cansado um dia.

Quero viver!
Quero envelhecer!
E bem velhinha,
Quero lembrar o que vivi e sentir paz pelo que fiz,
Quero sorrir e experimentar alegrias pelo que produzir,
Quero sentir com prazer as marcas que deixei em meu corpo cansado,
Quero visualizar marcas de alegria e paz deixadas por mim, nos corpos com quem cruzei.

E ao corpo invólucro que a minha alma guarda,
Quero a alegria de olhar com prazer para cada uma das marcas deixadas,
Quero a certeza de que as escolhas que fiz foram corretas,
Quero orgulho das decisões tomadas,
Quero respirar profundamente satisfeita pelas escolhas acertadas.

(Dalva de Castro)
Sou herdeira de mim, dos atos que cometi. (Dalva de Castro)

terça-feira, 1 de março de 2011

NINHO VAZIO

Vai indo

Meu menino bonito

Deixando alegria e saudade num rastro

De beijos, abraços, conversas, tristeza e amor



Vai indo

E suspiro fundo

Pra aquecer o abandono que fica no peito

Como ninho vazio do passarinho que voou



Vai indo

Seguindo um caminho só seu

Vai deixando memórias de tempos vividos

E levado em cada passo, um pouco do que outrora foi meu



Vai indo

Que a vida segue seu caminho

Vai crescendo a cada despedida

E enraizando amor em cada retorno e acolhida



Vai indo

Regando a semente crescida

Que já se faz árvore e sombreia a vida

Que acolhe mesmo os espinhos de sua despedida

Dalva de Castro, em 18/01/11.

Pincel de Luz

É madrugada


O sol desponta mansinho, mansinho

Vai colorindo as flores,

Pitando o branco que ficou da noite

Com o colorido de sua luz multicor.



Vai acordando a flor que dorme

Encolhida com o frio lunar

E se abre para ver o dia

Com esplendor e alegria.



Como é mágico o pincel de luz que o sol carrega!

Ele chega bem depressa de maneira tão sutil,

Passa mesmo, despercebido, para que olha e não vê,

Para quem é desatento,

Para quem já não tem tempo de acordar com o amanhecer.



Piaçabuçu, 26/01/11

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Navegar

Umedecido, alagado. Meu corpo já deixa transbordar resquícios d’água. Uma água meio doce, meio salgada, que começa a romper os muros dessa represa-corpo e pressiona, com força, as pequenas frestas dos olhos. Mas resiste o corpo. E sempre que com mais força essa água corpórea insiste em lançar-se para fora, é contida. Num dilema entre forças que buscam libertar-se e aprisionar-se, devaneiam pensamentos, como que em busca de Oasis perdidos na sequidão de solo de águas represadas. Navego na sequidão de meu nada e encontro, encalhado, um navio perdido. Tesouros me esperam. Não são pedras nem líquido preto. Não se trata de terra... mas sei que algo está a minha espera. E se enchem de força meus braços. Levantem-se as velas! Guia-me a bússola de um céu estrelado e a precisão de um desejo ainda esfumaçado.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Borboleta

Vale o tempo em que, rastejando, se locomovia,
Vele o tempo em que se enclausurou,
Vale a escuridão do casulo,
Vale o renascer com asas e cor.
E ainda que seja pouco o tempo vivido,
Vale acima de tudo, o tempo em que, com asas, voou.

Dalva de Castro

Retorno

Não consigo conter o que há em mim. Uma explosão interna, um desejo.

Retorno a mim, ao que sou, a vida.
E é tão intenso o que sinto, que o ar se faz muito no peito, se expande até quase sufocar e sair.
Vontade de rir e chorar.
Um descompasso com o mundo lá fora.
Olho para mim pelo que vejo fora. Olho para fora, para o outro e me vejo: Viva, plena de mim!
Um aperto no peito, um vazameto no canto do olho, difícil de conter.
Aprendi com a vida, em cada porto, que o sentir é o vento que me move, que não posso aprisionar o desejo de ser livre, que o medo deve ser alerta aos perigos, mas não impedimento à vida.
É preciso viajar, navegar, conhecer...
É preciso viver!

Dalva de Castro